Sunday 2 April 2017

Vamos emigrar?

- Não. 
- Claro que não.
- Que Loucura.
- Era incapaz de deixar tudo o que amo.
- Deixar o Paulo e a minha mãe? Não.
- A minha irmã é muito nova para eu a deixar.
- As minhas colegas não parecem estar assim tão bem...
- Eu ainda vou arranjar trabalho em Portugal.

Durante anos e meses estas foram algumas das minhas respostas e desculpas para adiar o meu fado.

Antes de me licenciar tinha ido com uma amiga à Exponor a uma feira de emprego internacional e tinha deixado os meus contactos em algumas agências que passava a vida a ignorar os seus inúmeros contactos.

Tinha-me licenciado em Julho do ano anterior (2013) estávamos em Julho de 2014, já tinha trabalhado com o P*, já tinha trabalhado com a minha mãe, já tinha visto tantos anúncios, decidi candidatar-me a alguns de venda porta a porta e call centers, nenhum me garantia um ordenado fixo, e para trabalhar eu precisava de ganhar dinheiro, era verão, estava calor lá fora, não precisava de trabalhar para aquecer.

Na sexta feira tinha descoberto que tinha entrado para um desses programas de treino para vender porta a porta, no domingo a minha mãe tinha ido ao pingo doce com o meu pai fazer as compras da quinzena e aproveitar as promoções, eu disse ao P* que não queria aquele trabalho, eu não queria, ponto final, mas eu tinha de trabalhar, já se tinha passado um ano, abri o meu e-mail com a esperança de haver lá alguma resposta (desde que me licenciei só tinha tido três respostas negativas e uma resposta positiva com uma proposta ridícula, trabalhar duas horas por dia, 7 dias por semana, com um misero valor À hora de 1.50€ que quando eu recusei ainda me perguntaram como é que eu tinha a coragem de desprezar uma proposta tão boa! ahahahahahah [que rir]) Abri o e-mail e tinha uma proposta para um hospital chamado Epsom and St. Helier, perto de Londres, em Surrey, ofereciam 2 meses de alojamento...

Fiz o CV em inglês e enviei para a gaja, ainda a minha mãe não tinha chegado e a fulana contactou-me uma pseudo entrevista em inglês para ver em que nível me encontrava, lá fez as perguntas e disse-me amanhã tens de te apresentar no Campo 24 de agosto, neste hotel para fazeres o teste de matemática e o teste de inglês escrito. 

A minha mãe chegou a casa e ficou estúpida para a vida dela. Estraguei-lhe logo o dia. 

Fui e passei com uma perna às costas.

Na quarta feira, último dia do mês fui à entrevista e passei e conheci alguns dos meus actuais amigos.

A minha mãe não se acreditou que eu viesse, ou que eu ficasse, muito menos pensou que o meu pai me autorizasse a vir (como se eu ainda tivesse idade para pedir autorização)

Chorei
Chorei compulsivamente
Chorei desalmadamente
Chorei todo o mês de Agosto.

Em Setembro dizia que não ia. 

O P* acabou comigo, e eu comecei a tratar das coisas enquanto chorava.

Aproximamo-nos enquanto eu preparava tudo, e foi horrível deixá-lo 2 dias antes de voar, 1 dia antes de voar ainda tentei a minha sorte para o hospital da feira mas desisti, os meus pais achavam que eu provavelmente voltaria antes do natal mas nessa noite fizeram-me jantar de natal, afinal era novembro, 12 de novembro e eu não voltaria para o natal, ( é estranho como escrever-vos isto ainda me faz chorar ), no dia 13 eu chorei muito, a minha mãe chorou muito, o meu pai e a minha irmã também, mas de alguma forma arranjei um pedacinho de força para me meter dentro do avião, eu e a Mira choramos aquela viagem toda, mas quando aterramos, apanhamos o shuttle para a nossa nova casa, fizemos o caminho em contra à mão, com um video do P* a dizer «Tudo vai correr bem!» (com o qual adormeci dias e dias).

A minha mãe achou que eu vinha de férias (e quando me cansasse e gastasse o dinheiro todo eu voltava.) o meu padrinho acho que eu ou desistia por ser tão agarrada À família ou ficava por teimosia e a verdade é essa eu fiquei por teimosia, para provar que conseguia.

Mas só aguentas até a um certo limite, só tive o que consegui aguentar e aguentei, e foi a melhor coisa que fiz.

Hoje o P* vive comigo,
a maioria dos meninos perdidos que se mudaram para esta terra comigo estão ou À porta do altar ou de trapos juntos e ainda ninguém fugiu para casa, fomos mudando de serviços outros de hospitais ou até mesmo de postos.

Mas todos assumimos que apanhar o avião da Tap, Às 08:50 naquela manhã chuvosa do dia 13 de Novembro de 2014 foi a melhor decisão da nossa vida.

Hoje decidi fazer uma rubrica que se chama «O que é emigrar?» em que todas as semanas, ou quinzenalmente vou responder às vossas perguntas sobre esta experiência e contar-vos como é esta aventura que se tornou a melhor coisa que alguma vez fiz na vida.


Portanto, quais são as vossas perguntas sobre este tema? O que gostariam de me perguntar sobre o assunto. 

Deixem todas as dúvidas neste post.  Responderei a todas as perguntas que deixarem neste post até ao dia 4/4/17 no dia 5/4/2017.

18 comments:

  1. O teu depoimento tocou-me no coração. Eu também vim para os Açores para mudar a minha vida. Sei que não é emigrar, mas estou longe de todos e num sítio tão limitado...

    THE PINK ELEPHANT SHOE // INSTAGRAM //

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    1. eu acredito que seja igual Cátia o conceito de emigrar é ir para o exterior :) para longe do que amas.

      Força!

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  2. PARABÉNS pela coragem! Devia ter feito isso há uns 20 anos atrás... Agora, parece-me tarde.


    Ms. Telita | Telita LifeStyleFacebookinstagramTwitterbloglovin'

    • passatempo no blog: giveaway

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    1. nunca é tarde para procurar uma vida melhor.
      dois dos portugueses que vieram pouco depois de mim eram mais velhos que os meus pais e estao aqui para ficar!

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  3. Estou quase a acabar o curso e não me sinto preparada para seguir esse caminho, mas é uma porta que não fecho... Logo se verá :)

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    1. olha eu tambem nao queria, e tinha a porta bem fechada, não há nada de mal com isso!

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  4. €1,50 à hora é um gozo dos grandes.
    Compreendo perfeitamente que em muitos casos seja mesmo a melhor opção.
    Eu escolhi uma via em que de facto trabalho para o estrangeiro, mas estou em Portugal.

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    1. infelizmente tenho um tipo de trabalho que nao me permite fazer o mesmo,
      ganho 15 vezes mais agora do que essa proposta miserável que tive... enfim

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  5. Não podia ter mais admiração por todos aqueles que, como tu, deixam o seu país e singram no estrangeiro. Faço votos para que a vida te sorria sempre e que os teus não sofram tanto com a tua ausência ao verem como estás feliz a fazer aquilo de que gostas e por que lutaste <3

    Beijinho <3

    Lina Soares
    Trinta por uma linha

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    1. é sempre dificil, a minha mae continua a sofrer horrores e eu sei disso... mas a vida é boa e falo com ela todos os dias!

      obrigada pelo carinho

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  6. Você é bem corajosa.
    Eu não sei se conseguiria ficar longe da família.
    Gostei do depoimento.

    Dany
    Blog Breshopping da Dany
    Conheça também o Breshopping da Dany KIDS

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  7. É complicado isso de ir para outro lugar e deixar tudo para trás. Sabemos que assim é a vida.

    O Planeta Alternativo

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  8. Revi-me nas tuas palavras, tambem nos deixamos tudo ha mais de 4 anos para vir para ca, e so nos arrependemos de nao termos vindo mais cedo, mas ca estamos de pedra e cal! Se precisares de ajuda com os posts e so dizer ;) E uma excelente ideias :)
    Bjinhosss
    https://matildeferreira.co.uk/

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Saudações Negras