Sunday 2 October 2011

Conto: As Abelhas, de minha autoria

Conto: As abelhas
-Mãe, mãe, amanhã não haverá aulas! – gritou Maria ao entrar em casa.
-Então, calma, claro que não há aulas, é o 25 de Abril!
-25 de Abril…- murmurou Maria ao entrar no seu quarto – que importa o dia? Não tenho aulas e isso é que interessa.
              Mas aquela data intrigava-a, especialmente porque a sua mãe conhecia o dia, e logo a mãe que nunca sabe quando é feriado, e lembrou-se daquele 1 de Dezembro, em que a mãe acordou tarde, fora a correr para o trabalho. Realmente extraordinário fora a sua cara quando chegou a casa, irritadíssima por ninguém a ter avisado! Hilariante…
              -Moça linda dos olhos do avô!
              -Avozinho, estou intrigada, o que é o 25 de Abril? Até a mãe conhece o dia!
              -Acredito, a tua mãe viveu-o na sua adolescência. Portugal estava a passar por uma ditadura e os militares cansaram-se e planearam uma revolução. Tu até conheces a canção que passou quando tudo começou, de Zeca Afonso, e tudo mudou!
            -Mas, avô, os militares cansaram-se de quê?
            -Falta de liberdade, não podíamos falar do que queríamos, éramos perseguidos…
            -Mas costumas dizer que actualmente não podemos dizer o que queremos!
            -Isso é verdade, o conceito de liberdade é muito subjectivo. Não é que sejas presa ou assim, mas tens de ter cuidado porque não sabes quem te está a ouvir!
            -Mas as pessoas gostam de viver assim? O meu professor diz que a minha geração está perdida, mas, pelos vistos, a dele é que se conformou.
            -Sim, é verdade, eu acredito que a tua geração vai ser a geração da mudança, a da tua mãe ainda vive crente que o 25 de Abril veio mudar tudo! Mas apenas mudaram a cara do governo, as coisas ficaram mais fáceis, mas ainda somos um povo oprimido!
            -Então em Portugal acontece o mesmo que numa colmeia, em que a rainha só serve para ter filhos e viver do que as abelhas trabalhadoras produzem.
           -É um bom exemplo, minha querida. Mas mesmo assim é tudo muito literal!
           -Eu espero que as abelhas se cansem!
          -Eu também, minha querida, eu também…


(1 de Outubro de 2008)



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