Thursday 20 February 2014

Carta ao Primeiro Ministro

Exmo Sr. Primeiro Ministro de Portugal,

Espero que esta carta o encontre bem de saúde... no que me toca a mim, a minha saúde física vai de vento em popa, rija que nem um pêro, pronta para trabalhar, no entanto a minha saúde mental degrada-se a cada dia que passa, a cada ilusão vã da possibilidade remota de arranjar um trabalho na minha área de estudos e caminhando, todos os dias para o fundo do poço, onde já lá se encontram milhares licenciados como eu.

Mas que rudeza a minha, nem sequer me apresentei.... como sabereis quem sou... se a cara do desemprego é constante por essas caras dos jovens de Portugal.

Chamo-me Mariana Liberdade, 22 anos, solteira, licenciada em Julho, pela Universidade Fernando Pessoa, Enfermeira de profissão, estado profissional: à procura do 1º emprego...
Mas podia a Ana, a Filipa, A Marta, a Leonor,... tantos outros espíritos singulares qualificados para trabalha, mas os quais o país não lhes dá oportunidade de mostrarem o que valem.

Sabe o que a maioria das pessoas nos diz? «EMIGREM»

Eu por norma achava piada a esse comentário... porque haveria eu de querer emigrar? Deixar o meu belo país à beira-mar? A minha mãe? A minha irmã? O meu pai? O meu namorado? A minha familia, os meus amigos e tudo quanto conheço? 

Pois, bem, 7 meses depois de terminar o curso, 5 meses depois de ter a minha cédula profissional as respostas a estas perguntas começam a aparecer...

Portugal é um pais com uma grande taxa de exportação... SIM, EXPORTAÇÃO, exportamos massivamente Jovens LICENCIADOS E QUALIFICADOS...

E não me responda que eles vão voluntariamente, porque eu sei que isso não é verdade, a maioria vai por necessidade, porque já não aguentam a frustração de andar 16 anos a estudar, sair da licenciatura com bom aproveitamento e chegar às entrevistas e só recebemos NÃO's, ninguém nos aceita para trabalhar... não temos experiência, mas se ninguém aposta em nós, se ninguém nos dá a oportunidade do primeiro emprego, sequer, como vamos nós ter experiência, Sr. 1º Ministro?

Eu compreendo que estamos em crise...
Eu percebo que temos a Troika a perna... 

No entanto, temos de negligênciar o povo?

Mas vamos nós falar da área que me toca a mim particularmente, 

SAÚDE EM PORTUGAL!

Apesar de poucos portugueses concordarem comigo, nós tínhamos um sistema de saúde muito bom, um sistema de saúde para todos... Um sistema de saúde que apesar das suas falhas, como as grandes listas de espera, fazia inveja a muitos países, como por exemplo os grandes Estados Unidos da América, onde só as pessoas que tem seguro tem direito ao acesso à saúde... e por este motivo morrem muitas pessoas...

Em 2010, estagiei no Hospital São João, e já se ouvia falar que havia falta de enfermeiros...

Em 2011, estagiei em vários serviços do Centro Hospitalar de Vila Nova Gaia - Espinho, EPE, e realmente sentíamos diariamente a falta de enfermeiros nos serviços.

Em 2012, estagiei no Serviço de Urgência do CHVNG uma das maiores urgências polivalentes do país, onde recebíamos doentes provenientes de vários distritos do país, trabalhávamos mais do que devíamos e implorávamos por enfermeiros para ajudarem, mesmo a equipa sendo fantástica e cada enfermeiro desdobrar-se em 5 ou 6 para ajudarem nas horas de aflição, mas não era fácil...

Em 2013, terminei o curso com o estágio de integração à vida profissional, no IPO, Porto, onde todos os enfermeiros, tinham + de 50 horas positivas e alguns + de 100horas, porque não haviam enfermeiros suficientes para fazerem os turnos e os doentes como é óbvio precisam de enfermeiros 24h por dia, então os enfermeiros seguiam turno, vezes sem conta, às vezes chegavam a não folgar durante 11 dias seguidos! E tudo porquê? 
Porque o estado não autoriza a contratação...

Sr. Primeiro Ministro, o senhor trabalha as suas horinhas diárias e vai à sua vidinha, quando tem de fazer horas extraordinárias fica aborrecido, cansado, precisa de descansar...

Então imagine enfermeiros, que cuidam de pessoas, que trabalham com a vida dos seus utentes nas mãos, a trabalhar sob exaustão física e psicológica... Porque o estado acha que mesmo exaustos eles conseguem trabalhar mais umas horas...

Diga-me como consegue dormir à noite quando nos hospitais os doentes não são tratados a 100% porque os enfermeiros estão cansados que já só funcionam a 60%?

Como consegue protelar as contratações, quando há enfermeiros a sairem dos serviços para a reforma e por outros motivos, sabendo que já esses são essenciais e fazem  muita falta, como consegue não contratar quem os substitua? SOBRECARREGANDO OS QUE FICAM E JÁ ESTÃO SOBRECARREGADOS?

Explique-me por favor, como é possível haver tanta falta de enfermeiros em todos os serviços do nosso Portugal e eu enfermeira desesperada por trabalhar, fico em casa, a desperdiçar as qualificações que tenho e nas quais os meus pais investiram tanto dinheiro, a sério, explique-me que eu não entendo...

Neste momento, sinto-me a ser sugada por um buraco negro, de desespero, porque este país que tanto amo decidiu subjugar-se à Troika e esquecer-se dos portugueses que sofrem...

Neste momento temos D. Afonso Henriques às voltas na tumba, tentando contactar a mãe lamentando ter-se revoltado contra ela... se ele soubesse que as coisas teriam tomado este rumo, ele teria deixado Portugal ser uma província de Espanha... já Vasco da Gama em vez de ir conquistado o mundo, ia conquistar um lugar no sofá e receber o subsídio de inserção social... o único que está contente neste momento é mesmo o Luís de Camões... escreveu a epopeia do momento certo de Portugal... visto que agora somos mera poeira do que fomos...

Pense nisso...

Com os melhores cumprimentos,

Enf. Mariana Liberdade



devaneios numa manhã de frustração! 

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