Bem, pelo título dest post vocês já estão com aquele cheirinho a esturro e a drama a correr-vos na cabeça, mas realmente não há qualquer drama, prometo, não, não tive um affair com alguém que estava noivo, relaxem!
É uma historia muito pacifica que marcou uma certa mudança da minha vida na qual eu ainda não estava preparada para ela e que quando chegou o momento certo eu já estava mais que preparada, com a ajuda muito especial desta pessoa!
O Mr casamento marcado, ou casamento arranjado marcado, apareceu na minha vida por volta do primeiro lockdown, ele não foi de todo uma experiencia romântica, ele foi apenas alguém que num momento em que todos estávamos isolados e eu sentia-me super sozinha porque tinha ficado solteira à pouco tempo, a viver sozinha coisa que foi uma experiencia nova para mim, triste, ligeiramente rejeitada, então eu precisava de algum mimo, atenção e companhia porque estava muito vulnerável.
Foi apenas uma amizade inocente e engraçada.
O Mr Casamento Marcado era:
filho de pai Libanês e mãe inglesa,
muçulmano,
tinha um negocio próprio, vivia em Cardiff (Pais de Gales) e quando vinha em negócios e ficava em Croydon num apartamento sozinho da família.
Então num momento de isolamento social nós criamos uma bolha pela nossa saúde mental e durante várias semanas se tornou uma coisa gira, em que jantávamos juntos alguns dias da semana, jogávamos às cartas, conversávamos sobre o nosso dia, tivemos inúmeras conversas sobre religião, ate aprendi a dizer algumas palavras em árabe, até a escrever o meu nome, aprendi mesmo muito durante o nosso tempo.
Foi uma experiencia muito útil porque me abriu mais para conhecer o mundo, no conforto da minha casa, eu sempre tinha sido mentalmente aberta nas minhas viagens, mas na minha vida privada sempre tinha sido mais conservadora, apesar de trabalhar num setting multicultural nunca tinha trazido esse tipo de experiências para o meu dia-a-dia.
Naqueles dias que eu me sentia mais sozinha tinha o sr das entregas a bater à porta com jantar e ao mesmo tempo recebia mensagens a dizer que em 10 minutos ele chegava e era obrigatório eu ter café, nos dias mais chatos e cansativos mesmo sem saber ele aparecia com gelado ou uma prenda.
Eu tive um dia terrível, ele estava em casa em Cardiff, e eu não estava bem, e de repente ele deixou de me responder, basicamente ele estava a caminho, ele veio de propósito apenas para me trazer uma prenda e me dar um abraço e voltar para casa.
Eu sempre suspeitei que ele tinha um casamento arranjado, mas nao lhe perguntei, nós eramos apenas amigos, eu nao sentia que devia perguntar, que devia de o respeitar e ele contaria quando estivesse preparado, despedimo-nos pouco antes do meu primeiro aniversário sozinha, os 29, a experiência do fantasma dos aniversários passados dizia-me que nao ia ser um dia maravilhoso e apesar de ele me querer dar uma festa abusada (estilo arabe) e um dia inesquecível, eu nao estava preparada para me despedir do meu bom amigo nesse dia, então despedimo-nos uns dias antes, porque ele partia para ir casar no dia a seguir aos meus anos.
Eu jamais me vou esquecer dele, por muitos anos que viva, desejo que ele tenha a manada de filhos que ele tanto queria e que a sua noiva tenha excedido as suas expectativas, mas eu aprendi tanto com ele que lhe ficarei eternamente grata! Com ele aprendi a ser mais cuidadosa com os meus pensamentos pré-concebidos e estigmas, a nao julgar as pessoas por aquilo que elas acreditam, apesar de ele ter um irmao loiro de olhos azuis, ele tinha feições muito árabes, e aquele homem árabe e muçulmano, passou um dia na cozinha para me cozinhar uma refeição 100% libanesa, para que eu conhecesse a cultura dele, eu jamais que isso pudesse acontecer antes de o conhecer! Aprendi também a degustar café, tal como vinho, a perceber o que esteve a crescer perto dos grãos de café, os cheiros e os paladares, tudo foi divertido, mas vê-lo trazer o pote de café cheio de café (sempre diferente) já feito, apenas pronto a ser aquecido e andar a fazer provas cegas foi top.
Para não falar que sem benefícios, nunca recebi tantas prendas de um amigo, hum, nem mesmo dos com benefícios para ser honesta, mas ele ajudou-me imenso a recuperar partes de mim, a acreditar que eu era capaz de me levantar de novo, mesmo sozinha!
Se um dia eu tiver uma filha eu vou-lhe contar sobre este rapaz, porque eu quero que ela tenha oportunidade de viver e que dê oportunidades às pessoas diferentes dela de as conhecer, que tire as suas próprias conclusões em vez de viver agarrada aos estigmas dos outros. Também quero que um dia ela perceba que não há problema nenhum em viver sozinha, porque vão aparecer pessoas pelo caminho que a vao ajudar a crescer no momento certo e que ela vai acabar por nunca se sentir sozinha!
Porque afinal de uma maneira ou de outra, tudo corre bem!
